(ENEM PPL - 2023)
Proclamação do amor antigramática
“Dá-me um beijo”, ela me disse, | |
E eu nunca mais voltei lá. | |
Quem fala “dá-me” não ama, | |
Quem ama fala “me dá” | |
“Dá-me um beijo” é que é correto, | |
É linguagem de doutor, | |
Mas “me dá” tem mais afeto, | |
Beijo me-dado é melhor. | |
A gramática foi feita | |
Por um velho professor, | |
Por isso é tão má receita | |
Pra dizer coisas de amor. | |
O mestre pune com zero | |
Quem não diz “amo-te”. Aposto | |
Que em casa ele é mais sincero | |
E diz pra mulher: “te gosto” | |
Delírio dos olhos meus, | |
Estás ficando antipática. | |
Pelo diabo ou por deus | |
Manda às favas a gramática. | |
Fala, meu cheiro de rosa, | |
Do jeito que estou pedindo: | |
“Hoje estou menas formosa, | |
Com licença, vou se indo”. | |
Comete miles de erros, | |
Mistura tu com você, | |
E eu proclamarei aos berros: | |
“Vós és o meu bem querer”. | |
LAGO, M. Disponível em: www.mariolago.com.br. Acesso em: 30 out. 2021. |
Nesse poema, o eu lírico defende o uso de algumas estruturas consideradas inadequadas na norma-padrão da língua. Esse uso, exemplificado por “me dá” e “te gosto”, é legitimado
pelo contexto de situação discutido ao longo do poema.
pelas características enunciativas requeridas pelo gênero poema.
pela interlocução construída entre o eu lírico e os leitores do poema.
pela mobilização da função poética da linguagem na composição do texto.
pelo reconhecimento do valor social da variedade de prestígio em textos escritos.